Ato Pela Educação Pública do Brasil na Câmara Federal Acaba em Abraço Extraordinário
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Auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados em Brasília (DF). |
Era um dia típico da capital
do Brasil. Era aproximadamente 14h, ao chegar no Eixo Monumental me deparei com
um termômetro que registrava, temperatura de 36,7°C. Minha garganta estava
seca, a cede era grande e o Sol rachava na cabeça. Ao meu lado avistei uma
escada, foi por ali que desci e fui direção a primeira recepção da Câmara dos
Deputados. Entrei na casa, e por alguns minutos dei uma pausa para aproveitar o
ar condicionado que amenizava o calor que para trás deixe.
Logo lembre que meu objetivo era entrevistar ao
menos duas parlamentares e não poderia sair do evento sem a fala da viúva de
Paulo Freire, Ana Maria Araújo Freire, popularmente conhecida pelo nome
carinhoso “Nita”. Só de lembrar me vinha um gelo na barriga;
“Sinto
como se eu tivesse tanta sorte por ter essa missão em mãos. Saber que em
algumas horas estaria dialogando com a mulher que compartilhou tantos momentos
de altos e baixos; de vitórias e também de fracassos com aquele que é uma das maiores
referências ao decorrer da minha vida, ou seja, Paulo Reglus Neves Freire.”
Paulo Freire é sem sombras de dúvidas o
maior educador e filosofo de todos os tempos, é considerado um dos pensadores
mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento
chamado pedagogia crítica. É também o eterno Patrono da Educação Brasileira.
Já refrescado, fui até a recepção, identificado
e com a credencial entrelaçada no pescoço adentrei os corredores turbulentos e
movimentados da Câmara. Movimento de parlamentares para todo lado. Logo me deparei
com a Deputada Federal Flor de Liz (PSD) e seus assessores, mas adiante cruzei o caminho de diversos outros; AlicePortugal (PCdoB-BA), Orlando Silva (PCdoB-SP), Lídice da Mata (PSB), além de
governadores e repórteres de diferentes emissoras que circula num verdadeiro
vai e vem.
A Câmara é um verdadeiro formigueiro em
colônia, muito bem organizados, onde cada colaborador; administrativos, da
imprensa e os representantes do povo (Dep. Estaduais e Federais), tem suas
funções bem específicas. Para manter tudo em ordem, elas trabalham
incessantemente. São dezenas de auditórios com votações acontecendo ao mesmo
tempo, interesses de todas as regiões do Brasil. Vai do Norte ao Nordeste e do
Sul ao Centro-Oeste. Se enganam em pensar que os parlamentares não trabalham.
Chego na escadaria que me dar acesso ao “Auditório
Nereu Ramos”. Desço e me deparo com um aglomerado de pessoas tentando entrar
nas dependências do Nereu, então ouço a produção informar: “O auditório lotou,
infelizmente só temos capacidade para 350 pessoas”. Vir a frustração na face
dos cidadãos afim de participar de um ato tão democrático e necessário.
O
segurança logo me identificou com a credencial de imprensa e me liberou. A manifestação, realmente lotou o auditório
Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados, alí concentrava uma resposta aos cortes
de verbas, à tentativa de privatização do ensino público e à censura nas
escolas e vetar o direito da Educação da população mais pobre desse país.
O cerimonial foi comandado pelo Fórum Nacional
Popular de Educação (FNPE), a concentração fez parte da programação da Greve
Nacional da Educação convocada por organizações estudantis e sindicais nos dias
2 e 3 de outubro.
Logo avistei a viúva “Nita” e a emoção tomava
conta dos meus sentidos. Avistei outras figuras públicas; os governadores do
Piauí, Wellington Dias, do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, ambos do PT, o
ex-ministro da Educação no governo Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante,
Deputadas Federais - Gleisi Hoffmann (PT-PR), Alice Portugal (PCdoB-BA), Lidiceda Matta (PSB-BA), ambas que encontrei no balanço do vai vem da casa.
Durante o “Ato” a deputada Alice Portugal
(PCdoB-BA), pontua que é preciso reforçar a união de toda a comunidade educacional
para derrotar os cortes de verbas impostos por Bolsonaro e restaurar as
dotações orçamentárias destinadas à educação e à pesquisa científica.
“O
governo Bolsonaro e seu ministro Abraham Weintraub declararam guerra à
Educação. Atacam o legado de Paulo Freire e todos aqueles que entendem que
educação é um direito de todos e todas. Precisamos derrotar o Future-se e este
governo desastroso.”, e finaliza sua fala tendo o aplauso de todos
presentes “Paulo Freire, Presente!”
exclama.
As
diversas manifestações da Greve Nacional da Educação ressaltam a relevância de
combater o desmonte da educação pública, da ciência e da tecnologia. Ao lado de
outros setores, o ensino e a pesquisa estão entre os principais alvos dos
ataques e da política de retrocessos do governo Jair Bolsonaro (PSL).
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Lídice da Mata (PSB-BA) é deputada Federal da Bahia e defende categoricamente o aceso a Educação |
Para a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), o Ato
em Defesa da Educação e da Soberania foi uma expressão simbólica de como essa é
uma luta de todo o país. “A defesa da Educação e da Ciência se tornou uma
bandeira que une o Brasil”, fala em seu discurso. Logo após Lidice sai às
pressas do evento, elas, assim como os demais, seguiam rumo ao Senado para votação da reforma da
Previdência.... Logo peguei no braço da
fotografa e fomos em direção a parlamentar e iniciamos um breve bate papo.
Comprimente
e logo perguntei. Qual a importância de gerar esses debates sobre o contexto da
educação no Brasil e a importância da aprovação da Proposta de Ementa à Constituição
(PEC 24).
Solicita
e muito atenciosa ela me responde: “Em
meio a uma de quebra de braço no centro do governo Bolsonaro, a educação é
castigada, uma paralisia em todos os sentidos toma conta de uma área-chave para
o desenvolvimento brasileiro. Impactos em diferentes projetos já são
perceptíveis em todo país. Nesse meio tempo a realidade do país são escolas sem
qualidade, com falta de professores e jovens sem condições de seguir com os
estudos", avalia.
Agradeço
a deputada da Bahia e ao retomar o Auditório me deparo com a fala da deputada
federal Gleisi Hoffmann (PT/PR) ela é categórica ao pontuar os ataques ao
educador Paulo Freire e reforça que a educação é a primeira área a ser atacada
por um governo de extrema direita:
“Isso
ocorre não só verbalmente, mas na desestruturação das políticas públicas para a
educação. Antes do governo golpista de Michel Temer a educação era uma das
áreas que mais recebia investimentos, tivemos aumento nas vagas para as
universidades públicas, melhoras nas condições do ensino fundamental e tivemos
a votação da Lei do Petróleo que destinou recursos para a educação – nós
destinamos 50% do fundo do pré-sal para a educação, o que daria 25 bilhões de
reais por ano para a educação. Hoje enfrentamos não um congelamento, mas uma
redução dos recursos nessa área”, destacou.
Nita
Freire inicia sua participação especial no ato e emocionou a plateia ao
relembrar diversas passagens políticas da vida de Paulo Freire. Também
compartilhou a experiência de uma ex-aluna sua que iniciou um projeto em Belém
(PA) de alfabetização de jovens e adultos em um hospital: “Quando perguntados o
que eles [os pacientes] mais queriam, eles diziam que queriam aprender a ler
para morrer igual gente”, contou Nita. Em outra passagem sobre o exílio de
Paulo Freire, Nita relembrou que ainda temos contas a acertar com ditadura e
seus algozes: “No Brasil nós não condenamos pessoas que torturaram pessoas e
até crianças. A gente paga caro por isso. Nós não conseguimos punir nossos
torturadores e por isso hoje temos um novo movimento que adora tortura, que
fortalece a tortura, que voto em nome do maior torturador do Brasil, o coronel
Ustra. Isso é inadmissível”.
Seu
discurso é o mais longo, mas prende a atenção de todos. Ela ressalta os gostos
culinário de Paulo Freire; suas viagens, o prazer em ouvir músicas que já não
se tocam, ao menos com tanta frequência nos dias atuais. Às 19h47 ela finaliza
sua participação e os admiradores de sua história junto ao filosofo Paulo
Freire se aproximam para tirarem fotos, de cabelos brancos como de seda e um
sorriso doce no rosto cede o momento de foto. Logo a organização limita o
momento para imprensa, então é chegada o grande momento.
Me
colocaram numa cadeira à sua frente; sentei, respirei e olhei em seus olhos.
Diante sua generosidade ela sorriu e me perguntou.
-
Qual seu nome, respondi
-
Márcio Malta...
Como
o mesmo sorriso ela pontua “Pode começar”.
Passou
o filme na minha cabeça! Lembrei das metodologias que aprendi durante o
Magistério, os ensinamentos de Paulo, e saber que estava ao lado de quem sempre
esteve ao lado de uma grande inspiração, me despertava vários sentimento e
emoções; insegurança, alegria, emoção, nostalgia e uma sensação extraordinária de
dever quase cumprido. Diante de turbilhoes de emoções, afirmei e em seguida perguntei;
Paulo
Freire é reconhecido por sua trajetória em prol da língua portuguesa, da
pedagogia e sua contribuição através da filosofia. Podemos afirmar que o eterno
Patrono da Educação do Brasil deixou como maior legado – O discurso da educação
como ferramenta de transformação de vidas, como inclusão dos marginalizados, um
ser humano sensível diante as mazelas do mundo, em especial na área da
Educação. "Diante esse cenário caótico onde o errado é certo e o certo é errado,
onde o estado e o governo desasiste milhões de brasileiros na esfera
educacional. Caso Paulo Freire estivesse presente o que ele falaria de governo
caótico diante a Educação?"
“Na maioria das vezes, deixar um bem
presente por medo de um mal futuro é loucura e não recompensa. Todos devem ter consciência apesar de tudo: diante
o medo, da ansiedade, da angústia, da incerteza, do passado, do futuro e do
presente que nos gera medo. A única certeza de transformação apesar dos outros
e de cada um de nós só acontece através da Educação. Ele com certeza falaria; “Não
deixemos o nosso maior bem preciso ser calado pela boca dos ignorantes!” declara.
Ao
final do bate papo leve e descontraído, então que surge um braço doce
carinhoso! Foi fantástico!
Pensei:“Quantos abraços doces como esse Ana Maria e Paulo Freire compartilharam?",
por fim, veio o sentimento de missão extraordinariamente cumprida.
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